O título do blog tem amplo significado. Tanto o autor como o presente espaço estão em constante construção.
(Afinal, somos seres inconclusos...). O blog vem sendo construído periodicamente - como todo blog - através da postagem de textos, comentários e divagações diversas (com seu perdão pela aliteração).

sábado, 26 de março de 2016

"Malhe" o Judas que está dentro de você!


No chamado “Sábado de Aleluia”, ou seja, no sábado que antecede a Páscoa, ocorre em comunidades de todo o mundo a “Malhação de Judas”, tradição herdada dos colonizadores espanhóis e portugueses. Tal tradição consiste em “espancar” um boneco do tamanho natural de um homem e, por fim, atear fogo. Esse ritual, por assim dizer, simboliza a morte de Judas Iscariotes. Humanamente falando, muitos consideram Judas o maior vilão da história.
Os Evangelhos nos demonstram seu caráter ambicioso em demasia, o qual culminou com a traição ao Mestre, em troca de trinta dinheiros (ou denários, moeda da época). Somente a título de curiosidade:
- Judas valorizou dez vezes mais uma libra (cerca de 330 gramas) de ungüento de nardo do que a vida do Mestre, visto que, no momento em que Maria, irmã de Lázaro, ungiu os pés de Jesus com o referido perfume disparou: “Por que não se vendeu este ungüento por trezentos dinheiros, e não se deu aos pobres? Ora, ele disse isso não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão, e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava.” (João 12.5,6). Perceba: o perfume para ele valia trezentos dinheiros; Jesus, apenas trinta. 
- Trinta moedas era o valor correspondente ao preço de um escravo. Ou seja, Judas trocou sua libertação e a consequente salvação eterna pelo preço de um escravo.   
É claro que até mesmo essa traição fazia parte do plano divino para a salvação da humanidade (e.g., Sl 41.9; Zc 11.13; Lc 9.22; Jo 17.12; e outros), mas observemos apenas no âmbito material. 
Quantas vezes olhamos a vida desse homem e o condenamos por essa traição e pelo preço por ele cobrado?
Trazendo para os nossos dias, quantas vezes não julgamos as falhas de nossos irmãos, ao mesmo tempo em que cometemos deslizes muito maiores? Ou como Jesus disse, “... como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, não atentando tu mesmo na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão.” (Lc 6.42).  É sempre assim: não tardamos em apontar e condenar o erro alheio; no entanto, fazemos vista grossa para nossos próprios erros, julgando-nos “os perfeitos”.
Quantas vezes temos sido tão traidores quanto Judas (ou até mais)?. E o que é pior: somos “comprados” e levados a trair Jesus por um preço bem menor que as trinta moedas.
Não convém nem mesmo mencionar o preço pelo qual O traímos. Nem ficar elencando os tipos de pecados que cometemos. Mas pense consigo mesmo: em troca de quê você tem traído Jesus?
Hoje, ao invés de malhar um Judas de pano, malhe o Judas que está dentro de você. Que por tantas vezes reduz o Senhor a nada e o substitui por mera efemeridade.
Bem sabemos, até que o personagem bíblico ora em comento buscou arrependimento, mas conseguiu apenas um mero remorso. Não sinta remorso por cometer imperfeições, falhas ou faltas. Arrependa-se. O primeiro pode levar à morte (espiritualmente). Já o segundo, quando genuíno, leva ao perdão dos pecados e, por conseguinte, à salvação eterna (Lc 3.3.; At 2.38; At 3.19; At 5.31; 2 Co 7.10).
Que Deus nos abençoe e nos ajude.

Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian

sexta-feira, 25 de março de 2016

Pormenores históricos e clínicos da morte de Jesus

O chicote que os soldados romanos usaram sobre Jesus tinha pequenas bolas de ferro e pedaços afiados de ossos de carneiro amarrados nele. Jesus é despido, e suas mãos são presas em um tronco vertical. Suas costas, nádegas e pernas são chicoteadas por um soldado ou por dois em posições alternadas. Os soldados insultam sua vítima. Conforme atingem repetidamente as costas de Jesus com toda a força, as bolas de ferro causam contusões graves, e os ossos de carneiro cortam a pele e os tecidos. À medida que o açoitamento continua, as lacerações atingem os músculos esqueléticos por baixo da pele e produzem tiras de carne ensangüentada. A dor e a perda de sangue antecipam o choque circulatório.

Quando é percebido, pelo centurião encarregado, que Jesus está prestes a morrer, a tortura é finalmente interrompida. O Jesus quase desmaiado é então solto e cai no piso de pedra, que está molhado com seu próprio sangue. Os soldados romanos vêem muita graça na afirmação desse judeu provinciano que afirma ser ele um rei. Jogam uma túnica sobre seus ombros e colocam uma vara em sua mão, como se fosse um cetro. Ele precisa de uma coroa para fazer sua imitação ser completa. Um pequeno feixe de galhos flexíveis cobertos de espinhos é montado no formato de uma coroa e é pressionado em seu escalpo. Mais uma vez, acontece um grande sangramento (o escalpo é uma das áreas mais vascularizadas do corpo). Depois de zombar dele e de atingi-lo na face, os soldados tiram a vara de sua mão e batem com ela na cabeça de Jesus, fazendo os espinhos penetrarem ainda mais na pele.

Finalmente, quando já estão cansados de seu esporte sádico, o manto é retirado de suas costas. Ele já se grudou às roupas ensangüentadas e ao soro das feridas, e sua remoção — do mesmo modo que a remoção descuidada de uma bandagem cirúrgica — provoca uma dor excruciante, quase como se estivesse sendo chicoteado de novo. As feridas começam a sangrar mais uma vez. Em deferência ao costume judaico, os romanos devolvem suas roupas. A pesada viga horizontal da cruz é presa aos seus ombros, e a procissão do Cristo condenado, dos dois ladrões e dos responsáveis pela execução prossegue pela Via Dolorosa. Apesar de seus esforços para caminhar ereto, o peso da pesada travessa de madeira, juntamente com o choque produzido pela enorme perda de sangue, é muito para ele. Ele tropeça e cai. A madeira rústica da travessa provoca um tipo de entalhe na pele lacerada e nos músculos dos ombros. Ele tenta se levantar, mas os músculos humanos foram exigidos além do que podem suportar. O centurião, ansioso para prosseguir com a crucificação, escolhe um observador robusto do norte da África, chamado Simão de Cirene, para carregar a cruz. Jesus o segue, ainda sangrando e suando o suor frio e pegajoso do choque.

A jornada de cerca de 600 metros entre a fortaleza de Antônia e o Gólgota é finalmente completada. As roupas de Jesus são mais uma vez tiradas, restando-lhe uma tira nos quadris, permitida aos judeus. A crucificação começa. Uma espécie de analgésico leve — uma mistura de vinho com mirra — é oferecida a Jesus. Ele se recusa a bebê-la. Simão recebe a ordem de colocar a travessa da cruz no chão, e Jesus é rapidamente jogado de costas, tendo os ombros contra a madeira. O legionário procura a depressão na parte anterior do pulso. Ele introduz um prego de ferro pesado e quadrado por entre o pulso, pregando-o profundamente na madeira. Rapidamente, ele vai para o outro lado e repete a ação, sendo cuidadoso para não deixar os braços muito apertados, mas permitindo alguma flexibilidade e movimento. A travessa vertical é então erguida, e o título "Jesus de Nazaré, rei dos judeus" é pregado na parte superior.

Jesus, a vítima, está agora crucificado. Conforme ele verga lentamente para baixo com mais peso sobre os pregos nos pulsos, uma terrível e excruciante dor é sentida nos dedos, passando pelos braços e vindo explodir no cérebro — os pregos nos pulsos estão fazendo pressão nos nervos medianos. Conforme tenta se empurrar para cima a fim de evitar o prolongamento desse tormento, ele coloca todo o seu peso nos pregos que seguram seus pés. Mais uma vez, é sentida uma profunda agonia por causa dos pregos cortando os nervos entre os metatarsos em seus pés. Nesse momento, acontece outro fenômeno. Conforme os braços se fatigam, grandes ondas de cãibras passam pelos músculos, provocando uma profunda e contínua dor latejante. Juntamente com essas cãibras, vem a incapacidade de se empurrar para cima. Pendurado pelos braços, os músculos peitorais são paralisados, e os músculos intercostais não conseguem funcionar. O ar consegue entrar nos pulmões, mas não consegue ser expelido. Jesus para para se levantar a fim de poder ter um curto período de respiração. Desse modo, o dióxido de carbono diminui em seus pulmões e na corrente sanguínea, e as cãibras diminuem parcialmente. De maneira espasmódica, ele é capaz de se empurrar para cima para exalar e inalar o oxigênio que lhe pode prolongar a vida. É sem dúvida durante esses períodos que ele profere as sete frases curtas que estão registradas.

É nesse momento que tem início as horas de dor ilimitada, ciclos de cãibras e torções, a asfixia parcial, a dor abrasadora à medida que os tecidos são rasgados em suas costas dilaceradas conforme ele se move para cima e para baixo contra a viga bruta da cruz. Então, começa outra agonia. Uma dor profunda e esmagadora no peito à medida que o pericárdio lentamente se enche de soro e começa a comprimir o coração. Está quase no fim — a perda de fluidos nos tecidos alcançou um nível crítico; o coração comprimido está lutando para bombear sangue grosso, pesado e vagaroso nos tecidos; os pulmões torturados estão fazendo um esforço frenético para arfar pequenas golfadas de ar. Os tecidos notadamente desidratados enviam um dilúvio de estímulos ao cérebro. Sua missão de expiação se completou. Finalmente, ele pode permitir que seu corpo morra. Com um último surto de força, ele mais uma vez pressiona seus pés pregados contra os cravos, fortalece suas pernas, respira fundo e profere seu sétimo e último clamor:

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito".

Jesus passou por tudo isso para que você e eu pudéssemos ser reconciliados com ele, para que você e eu pudéssemos ser salvos de nossos pecados quando declaramos Pai, nas tuas mãos entrego a minha vida.  

(Trecho do excelente livro "Não tenho fé suficiente para ser ateu", de Norman Geisler e Frank Turek, publicado pela Editora Vida)
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian

domingo, 20 de março de 2016

Cristologia: tentando definir o indefinível...

É engraçado... Nos três primeiros séculos da era cristã, os seguidores de Jesus o adoravam independente de definições. No entanto, muito embora já tivessem certa noção acerca da natureza d'Ele, bem como a consciência de Sua imutabilidade e da existência do Pai, do Filho e do Espírito Santo à luz das Escrituras, sempre houve a busca de uma fórmula que viesse a definir Jesus de maneira satisfatória aos anseios do pensamento do homem.
Por volta do ano 315 um presbítero chamado Ário passa a defender a tese de que Jesus não é eterno, mas apenas uma criatura do Pai. Afirmava que Cristo era sim, um instrumento de Deus, mas não possuía natureza divina.
Para por fim às disparidades de opinião acerca da pessoa do Messias, no ano 325 o imperador Constantino convocou o Concílio de Nicéia, de onde surgiu o Credo Niceno, talvez a primeira tentativa extrabíblica documentada (mas biblicamente embasada) de se definir Jesus.
Tem sido assim ao longo dos séculos.
Doutrinas sobre Deus são criadas com o intuito de fazer com que o Eterno se encaixe no temporal. Com que o inexplicável caiba na mente humana. Com que palavras venham a exprimir o inexprimível.
Assim é querer esclarecer como é Jesus. É querer explicar o inexplicável. Definir o indefinível. Compreender o incompreensível. Dizer o indizível.
E nesse afã, por vezes o homem acaba “coisificando” Jesus. Colocando-o numa caixinha com um rótulo.... Diminuindo o Criador à condição de criatura. Moldando-o à maneira daquilo que queremos que Ele seja.
Como disse Agostinho de Hipona: “Por mais altos que forem os voos do pensamento, Deus está ainda para além. Se compreendeste, não é Deus. Se pudeste compreender, compreendeste não Deus, mas apenas uma representação de Deus. Se pudeste quase compreender, então foste enganado pela tua reflexão.”
Ou seja... Não venhamos a confundir ou acreditar que Jesus só é aquilo sobre o qual os cristãos nos falaram. Tampouco Ele é aquilo que eu e você lemos nos manuais de teologia, ou o que os teólogos concluíram que Ele é, após calorosos debates. É muito mais. Ele transcende toda e qualquer explicação que o nosso limitado raciocínio possa cogitar.
Deus abençoe sua vida.
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian

domingo, 6 de março de 2016

Os líderes do tráfico, o credor incompassivo e Deus

Costumeiramente, por meio dos noticiários nos chegam ao conhecimento as atrocidades que a liderança do tráfico comete contra seus desafetos. Os atos praticados vão da tortura à execução sumária, sem o mínimo resquício de piedade.
Mormente, o motivo são as dívidas contraídas e acumuladas de tal maneira que impossibilitam o pagamento por parte do usuário, ou do “revendedor”, os quais acabam pagando com a vida. 
Há também os casos em que a “queima de arquivo” é um eufemismo para o extermínio daqueles que sabem demais, e assim colocam em risco informações restritas ao meio.
Fato é que os criminosos são implacáveis e, em ambas as situações, o motivo da execução são dívidas: no primeiro caso, no âmbito financeiro; no segundo, no âmbito da confiança e/ou lealdade mútua entre os “chefões e seus asseclas”, ou entre “o tubarão e seus peixes-piloto”.
Guardadas as devidas proporções, em sua conduta se assemelham ao credor incompassivo descrito no Evangelho segundo escreveu Mateus (capítulo 18.23-35). Ali estão registradas as palavras do Mestre, o qual por meio de uma parábola ilustra que o Reino dos céus é como um rei que desejava acertar contas com seus servos. Começando o acerto, trouxeram à sua presença um que lhe devia grande quantidade de prata. Como não tinha condições de pagar, o senhor ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele possuía fossem vendidos para pagar a dívida.
No entanto, aquele servo caiu de joelhos e implorou: “Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo”. Diante daquele quadro, o rei teve compaixão do angustiado homem, cancelou a dívida e o deixou ir.
Ao sair da presença do monarca aquele servo encontrou um de seus conservos, que lhe devia cem denários. Ao vê-lo, mediante violência queria fazer com que pagasse sua dívida, pelo que o conservo rogou o perdão e paciência, com as mesmas palavras utilizadas pelo “cobrador”. Só que ele não quis perdoar e, mandou lançar na prisão o pobre conservo.
Ao presenciarem o ocorrido, extremamente desapontados os demais criados foram delatar o fato ao seu senhor, que dirigiu ao credor incompassivo as seguintes palavras: “Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?” E, irado com a situação, entregou aquele homem aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia.
Cristo conclui a parábola com a seguinte assertiva: “Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.”
Diante dessas breves palavras, lanço o questionamento: como temos agido em relação àqueles que têm suas dívidas para conosco?
Implacáveis como os líderes do tráfico, sempre prontos a exterminar os devedores?
Ingratos como o servo da parábola?
Ou como o Único que é digno de ser imitado, Jesus Cristo, que sendo Rei dos reis e Senhor dos senhores, morreu em nosso lugar para nos dar o perdão e para quitar a dívida que tínhamos com Deus, a qual nos era impossível efetuar o pagamento?
Não nos esqueçamos, o Mestre foi claro: para se obter perdão, é necessário perdoar.
Que o Senhor nos abençoe e nos ajude.
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian